Estamos nos aproximando da festa do
apóstolo Tiago. Aqui em Brasília são muitas as pessoas que já fizeram ou estão
se preparando para fazer o Caminho de
Santiago. O encontro mensal que aqui realizam é um momento prazeroso e
rico, pois elas viveram uma experiência marcante e as suas partilhas são
extremamente enriquecedoras.
Peregrinação
e caminho são um símbolo do que é a vida humana. O apóstolo Tiago foi um
peregrino missionário que partiu de Jerusalém, chegou até o Finisterrae e voltou a Jerusalém para
ser ali decapitado pelo rei Herodes
Agripa. A tradição secular situa em Compostela o lugar e santuário onde
descansam os restos do apóstolo. Desde a Idade Média se sucedem as
peregrinações a este lugar da Galicia. Tiago foi um discípulo de Jesus, que se
definiu como o Caminho. Santos como Inácio de Loyola herdaram esse espírito até
o ponto que ele assinava suas cartas e descrevia a sua vida como a do “peregrino”.
A
fé faz com que o peregrino sinta a meta, de alguma maneira, já está presente na
partida. A experiência de fé ultrapassa aquela tendência do ser humano de “ver
para crer”. O contrário é mais verdadeiro: “crer para ver”. O peregrino que percorre os campos (per agros) tem os olhos da alma bem
abertos e enxerga, nas coisas mais comuns e cotidianas, sinais da presença de
Deus o acompanhando.
Anos
atrás participei de um seminário cujo tema era “Cuidar dos que cuidam dos outros”. Após as palestras de uma médica
e de uma psicóloga que falaram sobre os cuidados físico e psíquico, foi a minha
vez de falar sobre “o cuidado espiritual”.
Terminada a palestra uma moça me fez esta interessante pergunta: “Como começar a cuidar da dimensão espiritual?”
Respondi que, ao igual que nas outras dimensões da vida, temos que dar a ela tempo
e exercício. Ir treinando a dar atenção
à nossa alma.
Pelo
testemunho que escuto dos peregrinos a Santiago, a peregrinação é uma escola de
vida. A vida se simplifica e se passa a valorizar as coisas pequenas e belas. A
natureza, as pessoas, os caminhos e horizontes. E, o mais importante, a gente
tem tempo e ambiente para perceber o sentido da vida; a diferenciar o essencial
e o passageiro; a ser mais livre e autêntico.
Uma
das coisas que as pessoas estão precisando mais é de “escutar o coração”. Li
dias passados este trecho de um santo que desconhecia e que me pareceu muito
atual:
Quando se abrirem diante de ti vários
caminhos e não souberes qual percorrer, não entres em qualquer um a esmo: senta
e aguarda. Respira com a confiante profundidade com que respiraste o dia que
vieste ao mundo. Aguarda e aguarda ainda mais. Fica quieto, em silêncio, e
escuta o teu coração. E, quando ele falar, levanta e vai aonde ele te levar.
Vocês,
peregrinos e peregrinas, estão de acordo com isso? Vocês já tiveram alguma
experiência parecida?
Dito
com outras palavras precisamos aprender a prestar atenção, mesmo no meio das
tempestades, em que direção a brisa sopra.
Um dia um jovem me falou: Várias vezes no
decorrer do dia, em meio aos mais diversos acontecimentos, como me faz bem
parar um instante e, sem ninguém perceber, prestar atenção ao sopro divino.
Para onde a brisa sopra? E suavemente me deixo conduzir por ela.
O peregrino no decorrer da sua
aventura vai se familiarizando com a brisa de Deus, com o Deus que fala no
profundo do coração. Como passar para os outros uma tão rica experiência de
vida? É o desafio missionário do peregrino de Santiago. De todo peregrino!
Pe. Manuel Eduardo Iglesias. SJ.
Nota: Saudoso Pe. Iglésias, orientador do Grupo Peregrinos da Paz de Brasília, natural de Santiago de Compostela.
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