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Brasília, Distrito Federal, Brazil
O primeiro contato com o “Caminho de Santiago” foi em 1994. Após quase dois anos em busca de informações mais consistentes realizei o meu primeiro caminho em junho de 1996. Após os primeiros passos continuo até hoje. Ao longo dos anos foram percorridos diversos caminhos que levam a Santiago de Compostela. Além do tradicional Caminho Francês percorrido por diversas vezes também realizei outros trajetos. Em destaque o " Caminho Aragonês" , “Caminho País Vasco Interior e da Costa”, “Caminho Cantábrico”, “ Caminho Asturiano Interior e da Costa”, “Caminho Primitivo”, “Caminho Inglês”, “Caminho Português”, “Caminho de Madrid”, “Caminho del Ebro” e “Caminho de Antonino. Tive também a oportunidade trilhar a “Ruta del Cares”, a “Islas Cies”, “Vale de Azkoa-Selva Irati”, e outras ramificações de caminhos da Galícia, Navarra e Astúrias.

sábado, 23 de julho de 2022

A PEREGRINAÇÃO DA VIDA HUMANA

 

   Estamos nos aproximando da festa do apóstolo Tiago. Aqui em Brasília são muitas as pessoas que já fizeram ou estão se preparando para fazer o Caminho de Santiago. O encontro mensal que aqui realizam é um momento prazeroso e rico, pois elas viveram uma experiência marcante e as suas partilhas são extremamente enriquecedoras.

    Peregrinação e caminho são um símbolo do que é a vida humana. O apóstolo Tiago foi um peregrino missionário que partiu de Jerusalém, chegou até o Finisterrae e voltou a Jerusalém para ser ali decapitado pelo rei Herodes Agripa. A tradição secular situa em Compostela o lugar e santuário onde descansam os restos do apóstolo. Desde a Idade Média se sucedem as peregrinações a este lugar da Galicia. Tiago foi um discípulo de Jesus, que se definiu como o Caminho. Santos como Inácio de Loyola herdaram esse espírito até o ponto que ele assinava suas cartas e descrevia a sua vida como a do “peregrino”.

    A fé faz com que o peregrino sinta a meta, de alguma maneira, já está presente na partida. A experiência de fé ultrapassa aquela tendência do ser humano de “ver para crer”. O contrário é mais verdadeiro: “crer para ver”. O peregrino que percorre os campos (per agros) tem os olhos da alma bem abertos e enxerga, nas coisas mais comuns e cotidianas, sinais da presença de Deus o acompanhando.

    Anos atrás participei de um seminário cujo tema era “Cuidar dos que cuidam dos outros”. Após as palestras de uma médica e de uma psicóloga que falaram sobre os cuidados físico e psíquico, foi a minha vez de falar sobre “o cuidado espiritual”. Terminada a palestra uma moça me fez esta interessante pergunta: “Como começar a cuidar da dimensão espiritual?” Respondi que, ao igual que nas outras dimensões da vida, temos que dar a ela tempo e exercício. Ir treinando a dar atenção à nossa alma.

    Pelo testemunho que escuto dos peregrinos a Santiago, a peregrinação é uma escola de vida. A vida se simplifica e se passa a valorizar as coisas pequenas e belas. A natureza, as pessoas, os caminhos e horizontes. E, o mais importante, a gente tem tempo e ambiente para perceber o sentido da vida; a diferenciar o essencial e o passageiro; a ser mais livre e autêntico.

    Uma das coisas que as pessoas estão precisando mais é de “escutar o coração”. Li dias passados este trecho de um santo que desconhecia e que me pareceu muito atual:

    Quando se abrirem diante de ti vários caminhos e não souberes qual percorrer, não entres em qualquer um a esmo: senta e aguarda. Respira com a confiante profundidade com que respiraste o dia que vieste ao mundo. Aguarda e aguarda ainda mais. Fica quieto, em silêncio, e escuta o teu coração. E, quando ele falar, levanta e vai aonde ele te levar.

   Vocês, peregrinos e peregrinas, estão de acordo com isso? Vocês já tiveram alguma experiência parecida?

    Dito com outras palavras precisamos aprender a prestar atenção, mesmo no meio das tempestades, em que direção a brisa sopra.

    Um dia um jovem me falou: Várias vezes no decorrer do dia, em meio aos mais diversos acontecimentos, como me faz bem parar um instante e, sem ninguém perceber, prestar atenção ao sopro divino. Para onde a brisa sopra? E suavemente me deixo conduzir por ela.

    O peregrino no decorrer da sua aventura vai se familiarizando com a brisa de Deus, com o Deus que fala no profundo do coração. Como passar para os outros uma tão rica experiência de vida? É o desafio missionário do peregrino de Santiago. De todo peregrino!

Pe. Manuel Eduardo Iglesias. SJ.

Nota: Saudoso Pe. Iglésias, orientador do Grupo Peregrinos da Paz de Brasília, natural de Santiago de Compostela.

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